segunda-feira, 11 de março de 2013

Não sei se tudo errei ou descobri

Naquela altura o ter-te encontrado foi o que demais despropositado tive na minha vida. E minto. A forma como te deixei - ou me deixaste ir; e sei que não havia outra maneira - é o único travo de real de uma estória que me parece agora imaginária. Sei que mais anos se passarão sem te ver. Sei que se te vir que a indiferença me esmagará. Os sinais de fogo que teimamos em fazer em momentos de desassossego já não me confortam como confortavam. Sei que estás aí desse lado e que, neste texto, sabes do que falo. Sempre soube que a tua presença física nem era de todo o mais importante. Mas agora passado este tempo todo pergunto-me se voltaste à tua vidinha ou se a interrogação a que te obriguei ainda te comove e guia. O bem que me devotaste é como se a cada dia se esfumasse e logo chega o momento em que, mais uma vez, te invoco. Na esperança miserável desses sinais que já são tão poucos e que cada vez me sabem a menos. Quer isto dizer que te perdi? Ou que daqui para a frente só sou eu e foi essa a finalidade para que me preparaste? Responde-me uma última vez porque

As ordens que levava não cumpri

E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri
 
*Sophia de Mello Breyner Andresen

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