sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Desfiz-me dos livros que li um por um enquanto os relia


Desfiz-me dos livros que li um por um enquanto os relia. Fiz mesmo questão de procurar alguns que não tinha na estante, que emprestava ou que desapareciam misteriosamente. Comecei por A invenção do dia claro, de José Almada Negreiros, não me dissesse que não duro nem metade para ler todos os livros da livraria da minha rua. Tive essa necessidade. Foi desejo. Foi mais que isso. Os livros só nos podem salvar uma vez. Salvar? Talvez não seja a palavra adequada mas não me ocorre outra. O que fica deles é certo, são memórias de um tempo em que nós não podemos voltar a ser o que éramos. Os peritos nesses casos dizem que amadurecem mas é mentira. Quem amadurece, na verdade, somos nós. E isso é triste.

Do dia para a noite a amizade que tínhamos por algo enegrece. Não que não esteja lá. Está. E os livros provam-nos isso. Mas como podemos voltar a tê-la por inteiro?,  como se estivéssemos a ler o livro da nossa vida pela primeira vez? Ah, não podemos fazer é pedir o impossível. O ciclo dos livros que lemos, como a vida, não é vicioso. Antes fosse. O mais que fazemos a nada nos vale, sim, é agora José Régio a ser queimado. O que logramos é encontrar outro que numa primeira leitura nos faça recordar tudo aquilo que perdemos os momentos a inocência o não saber ainda que o amor é para a vida mesmo que cada um vá por linhas diferente ou opte por outras frases com palavras mais complicadas ou contas e perdi o sentido do que estava a tentar dizer.

Como explicar? Então se um livro me encontrar amanha na livraria e me lembre algo estou a lembrá-lo de uma forma completamente nova, é como reviver. Reviver? Talvez não. É mais aperceber-me que afinal foi mais especial do que alguma vez pensei ter sido. Sim, deve ser isso. Agrada-me. A promessa que me obrigo daqui até ao final dos meus dias é essa: nunca mais reler um livro. E a verdade é que não sei do que falo. 

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