Desfiz-me dos livros que li um por um enquanto os
relia. Fiz mesmo questão de procurar alguns que não tinha na estante, que
emprestava ou que desapareciam misteriosamente. Comecei por A invenção do dia
claro, de José Almada Negreiros, não me dissesse que não duro nem metade para
ler todos os livros da livraria da minha rua. Tive essa necessidade. Foi desejo.
Foi mais que isso. Os livros só nos podem salvar uma vez. Salvar? Talvez não seja
a palavra adequada mas não me ocorre outra. O que fica deles é certo, são
memórias de um tempo em que nós não podemos voltar a ser o que éramos. Os peritos
nesses casos dizem que amadurecem mas é mentira. Quem amadurece, na verdade,
somos nós. E isso é triste.
Do dia para a noite a amizade que tínhamos por
algo enegrece. Não que não esteja lá. Está. E os livros provam-nos isso. Mas
como podemos voltar a tê-la por inteiro?, como se estivéssemos a ler o livro da nossa
vida pela primeira vez? Ah, não podemos fazer é pedir o impossível. O ciclo dos livros que lemos, como
a vida, não é vicioso. Antes fosse. O mais que fazemos a nada nos vale, sim, é
agora José Régio a ser queimado. O que logramos
é encontrar outro que numa primeira leitura nos faça recordar tudo aquilo que
perdemos os momentos a inocência o não saber ainda que o amor é para a vida mesmo
que cada um vá por linhas diferente ou opte por outras frases com palavras mais
complicadas ou contas e perdi o
sentido do que estava a tentar dizer.
Como explicar? Então se um livro me encontrar
amanha na livraria e me lembre algo estou a lembrá-lo de uma forma
completamente nova, é como reviver. Reviver? Talvez não. É mais aperceber-me
que afinal foi mais especial do que alguma vez pensei ter sido. Sim, deve ser
isso. Agrada-me. A promessa que me obrigo daqui até ao final dos meus dias é essa: nunca
mais reler um livro. E a verdade é que não sei do que falo.
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